Genocídio cultural (FolhaBV)
Genocídio cultural
Robert Dagon (*)
Aprendemos em nossos livros de história que fomos “descobertos”. Assim, espanhóis, portugueses, ingleses, franceses, entre outros povos, teriam começado a história, a qual não teríamos se eles não tivessem vindo para cá. Somos “convencidos”, o mesmo acontecendo com nossos irmãos africanos, asiáticos, entre tantos.
Ensinam-nos que toda a riqueza cultural, científica e social de povos como os Incas, Astecas, Maias, constituem lixo, rebotalho, e que civilizações africanas são “tribos”, bárbaros, sem cultura.
Calendários planetários, agricultura altamente desenvolvida, conhecimento da fundição de ferro e da escrita, engenharia praticada com instrumentos não compreendidos até hoje, evidência de utilização de fonte de energia que não a eletricidade, são, todos, elementos constitutivos de civilizações muito avançadas, não reconhecidas como tal pelos “descobridores”.
Os invasores levaram para seus países de origem tudo que lhes interessava, do ouro e da prata aos bens culturais, religiosos, artísticos. Induziram os povos autóctones de que lutar seria tarefa perdida, pois eles representavam, inclusive, a vontade dos Deuses. Prepararam o caminho para impor o monoteísmo, afirmando que os povos nativos não praticavam religião e sim cultos primitivos.
Não basta que os dominadores provem e imponham seu poder. É imperioso que os “vencidos” acreditem que: não podem vencer; não são inteligentes; são inferiores; não podem trilhar outro caminho; sua língua não tem significado; sua nudez ou sua indumentária são ridículas; seus usos, costumes, religião, são absurdos.
Assim, se pousarmos na Terra Macuxi, após essa viagem breve e abreviada, compreenderemos por que temos nomes estranhos em escolas, em ruas, em espaços públicos, esportivos.
Alguns “descobridores” de Roraima pensam que são os únicos inteligentes, seus parentes, aderentes, familiares. Pensam que somente após sua chegada a cultura fez-se presente. Infelizmente, para alguns subservientes, os invasores são um mal necessário, imprescindível.
Porém, mesmo parecendo serem os esquecidos, os marginalizados, os humilhados, os sem nome e que nome algum têm a dar, os povos íncolas, os nordestinos, os paraenses, os gaúchos, os estrangeiros, enfim, os roraimenses e “roraimados” (como diz o poeta nativo) que construíram e constroem esta Grande Terra chamada Roraima, são os nossos Heróis, repousam em nossa carne por estarem em nosso DNA, em nossas vidas, nossas memórias individuais e Históricas.
(*) Robert Dagon, bancário. robert_dagon@hotmail.com
Publicado em FolhaBV, 20140618