Dia internacional da Mulher. Uma reflexão (FolhaBV)
Dia internacional da Mulher. Uma reflexão (FolhaBV)
O Dia Internacional da Mulher provoca-nos muito pensar. Imaginemos que o voto só foi conquistado pelas mulheres há menos de cem anos, tempo da chegada da televisão ao Brasil. Muitas, já falecidas, foram punidas por ousar aprender a ler, em fins do século XIX e início do século XX. Este direito ainda é negado em muitos lugares do nosso Planeta. Há avanços, tímidos, é bem verdade. No Brasil, a participação de muitas mulheres na vida pública, incluindo-se a eleição da presidente da república, bem como a ocupação de cargos na vida militar são evidências deste pequeno avanço. Entretanto, a relação do Estado e das elites dominantes com as chamadas minorias ainda é de grave violência. Por mais que haja leis como a Maria da Penha, a violência física contra as mulheres é gritante. O comportamento masculino é marcadamente de posse em relação às mulheres e a estrutura legal, apesar dos esforços, é tímida. Quais as possibilidades abertas à luta das mulheres? É uma luta contra os homens? É um luta meramente política? Em um país como o nosso, em que a estrutura social é marcadamente desigual, com enorme concentração de renda e poder nas mãos de poucos, a perspectiva que se coloca para os explorados, marginalizados, discriminados, passa necessariamente pela ocupação dos espaços de construção democrática, de disputa de poder, de construção de uma consciência coletiva, mas, prioritariamente, solidária. Assim, homens e mulheres, imbuídos de um projeto econômico, político e social, construído com a maior participação possível, poderá ser posto em oposição ao velho projeto das elites, hoje associadas a uma “esquerda” comprometida com seus privilégios e que gerencia a crise em nome da governabilidade dos velhos inimigos do povo. Não há saída para os “esquecidos” senão a organização independente, firme, sem conciliação, em busca de uma saída que reflita os interesses de uma maioria que existe, mas, infelizmente, não tem consciência de seu poder. Neste 8 de Março, o discurso dominante será o de restringir a homenagem ao papel de mãe, tão somente, quem sabe acompanhado, como no passado, por um fogão de presente. As mulheres que ajudam a fazer este país com sua dupla, tripla, quádrupla jornada de trabalho, de trabalhadoras e mães, de cientistas, trabalhadoras rurais, desempregadas, índias, negras, brancas, podem erigir um novo porvir. Como dizia um filósofo do século XIX: “O grau de evolução de uma dada sociedade pode ser medido pelo nível de liberdade que têm as suas mulheres”.
Robert Dagon, bancário de militante do PSOL.