Copa do Mundo e transgressão oficial (FolhaBV)

05/01/2014 21:59

 

Copa do Mundo e transgressão oficial

Robert Dagon

Uma banda de rock insinuou em uma de suas músicas a necessidade de alugar o Brasil. No refrão a afirmação: “A solução é alugar o Brasil. Nós não vamos pagar nada”. Passados alguns anos, quem toca a música é o governo federal. Durante a Copa do Mundo de 2014 e, mais na frente, nas Olímpiadas de 2016, a ficção poderá ocupar o lugar da realidade. Senão vejamos. A maioria dos estádios já se chama “arena”, abandonando a referência de localidade e nacionalidade que seus nomes carregavam ou, no caso do “Maracanã”, oficialmente “Mário Filho”, o abandono histórico do palco que já abrigou mais de duzentos mil torcedores. “Arenas” que vão receber tão somente meia centena de milhares de privilegiados. A venda de bebidas alcóolicas poderá ser “liberada” para agradar aos grandes patrocinadores. A segurança feita por empresas privadas autorizadas. Os ingressos são “vendidos livremente” pela internet, o que já passa uma “peneira” em boa quantidade de torcedores que não têm acesso ao mundo virtual. Estudantes, idosos, entre outros “protegidos” pela legislação, também estão fora. Toda uma estrutura foi preparada para transformar as cidades em “espaços turísticos confortáveis”. Na prática, aditivos em obras não acabadas que tiveram seus preços aumentados de forma astronômica e serviram ao aviltante processo de corrupção. Mesmo em uma “cidade que tem boa vista”, que não será “sede”, portanto não terá jogo algum, acontece uma reforma no estádio com “aplicação” de recursos incomensuráveis. Tudo isto e muito mais para transformar o país em teatro para uma empresa privada, a FIFA, amealhar muito, mas muito dinheiro mesmo. Para se ter uma ideia, há previsão de “investimento” na ordem de 21 (vinte e um) bilhões de reais, dos quais somente quatro (quatro) bilhões virão da iniciativa privada. O restante, três quartos, serão “financiados” com recursos públicos, ou seja, por aqueles que já estão alijados da “diversão”. Mas o prejuízo não estará limitado à falta de participação na grandiosa festa. Basta indagar aos irmãos da “Terra de Mandela”, a África do Sul, quais foram os benefícios da Copa de 2010,       que “herança” restou, qual “acessibilidade” tem aquele povo às grandes obras, que projeto foi estabelecido para ter continuidade e mudar sua vida .Não estamos observando algo tão simples como pensam alguns, meros jogos de cordialidade, de diplomacia. O governo brasileiro, ao “alugar” o Brasil para a FIFA, abre precedentes na legislação nacional, assume pesada responsabilidade no plano jurídico, cultural e histórico.

Bancário                                                                               robert_dagon@hotmail.com