Copa da autoridade ou autoridade da Copa (FolhaBV)

24/04/2014 21:36

 

Copa da autoridade ou autoridade da Copa

Robert Dagon (*)

Todos os preparativos para a Copa do Mundo estão em marcha e o ritmo é brasileiro. Brasileiro apenas no passo das obras (in) acabadas, nos diversos esquemas que multiplicaram seus preços, nas justificativas do ministro dos esportes, tradicional líder de uma esquerda historicamente subserviente, na utilização das instituições repressivas para afastar o povo do epicentro dos jogos. Neste item uma repetição mal ensaiada do que houve na visita do Papa ao Brasil. Vários intelectuais da área sociológica avaliaram que o Exército não tinha e não tem o preparo necessário para lidar com conflitos em áreas populacionais. Mesmo as Polícias Militar e Civil não estão inteligentemente formadas para esta tarefa. As áreas “pacificadas” concentram uma população que tem, em suas condições sociais, econômicas, de distribuição urbana, uma matriz odiosa, doente e, de certa forma consciente: o afastamento e mesmo a expulsão de áreas hoje ocupadas pelo comércio, pelos grandes bancos, pela especulação imobiliária, pelos grandes grupos nacionais e internacionais.

Um “relâmpago de esperança” surge com a presença do secretário geral da FIFA. Só ele tem a coerência da falar a verdade, citar os fatos e, com uma cara zangada dizer, pela segunda vez, que a FIFA, empresa privada da qual é o segundo nome na hierarquia, não vai admitir erros grosseiros, falta de condições de “trabalho”. Entenda-se por trabalho vir aqui amealhar bilhões de dólares por abrigar por trinta dias um torneio de futebol, deixando, ao final do período, a conta (por nossa conta).

Claro que a “esquerda” que anda abrigada nos braços da “direita” tem interesse no resultado final da competição. Ganhando tentará, de todas as formas, destacar o nome do eterno presidente Lula como mentor do fato do Brasil ter sediado o evento. Ou mesmo “deletar” o escândalo da Petrobrás ligando o nome da presidente Dilma ao resultado, se for positivo.

Como até o churrasquinho e a cerveja estão e estarão controlados pela superpoderosa FIFA, durante trinta dias, quem sabe seja necessário que o governo brasileiro amplie a permanência do secretário geral da FIFA no país, para cobrar: a transposição do Rio São Francisco (prazo vencido há anos); a implantação e condução dos trabalhos do Legislativo na CPI da Petrobrás; a privatização dos aeroportos; os escândalos nossos de cada dia.

“A vida é igualzinha ao futebol. Mas o campo não é demarcado, vale impedimento, a canelada marca ponto a favor, a bola é quadrada, o gol não tem rede e o Supremo Juiz é um ladrão que expulsa do jogo quem bem entende, sem qualquer explicação”.

Fernandes, Millôr, (“Millôr Definitivo, a bíblia do caos”).

Bancário,          robert_dagon@hotmail.com      webnode.robertdagon.com.br (site)