Copa, aluguel, ... Vida que segue (FolhaBV)

17/07/2014 21:13

 

Copa, aluguel, ... Vida que segue

Robert Dagon (*)

No dia 13 de julho foi encerrado o contrato de aluguel firmado entre o governo brasileiro e a FIFA. Como herança, arenas que não terão utilidade social, dívidas que devem ser pagas, uma derrota histórica e, mais uma vez, escândalos.

Um exemplo gritante é o caso da venda “paralela” de ingressos, por incrível que possa parecer, legítimos, feita por pessoas ligadas diretamente à Federação Internacional de Futebol. Isto tudo com afirmações dos envolvidos de que teriam acesso a dirigentes de seleções, de confederações e federações de futebol, jogadores, autoridades.

A promiscuidade entre futebol e política é evidente e antiga. Basta citar o ocorrido na Copa de 1978, momento em que o Brasil saiu da competição invicto. Nossa seleção jogou antes da Argentina entrar em campo e, empatados, o critério de saldo de gols fazia com que os “Hermanos” precisassem ganhar do time peruano por uma diferença de cinco gols. Em pleno período de ditaduras militares na América Latina, não deu outro resultado: Argentina 6 x 1 Peru.

A FIFA é, de longe, a responsável direta pelos problemas com ingressos. Depois da invenção do código de barras, que está presente até em nossas contas de água e luz, é possível o controle total da quantidade, qualidade, local, podendo-se separar, para controle estatístico, até o sexo e idade dos presentes a um determinado evento cultural, artístico ou esportivo.

A derrota histórica para a Alemanha, no campo de futebol, é apenas o lado externo do problema, a aparência. Senão vejamos alguns exemplos: os alemães se hospedaram no local em que o Brasil foi “descoberto”; construíram toda uma estrutura para treinamento que ficará para usufruto da comunidade; mantiveram com a população uma relação estreita, ao ponto de comprarem equipamentos e instrumentos para pesca; enfim, toda uma relação de simpatia e empatia.

Como precisa acontecer na vida, os alemães vêm construindo este time há oito anos, com planejamento, preparação em diversos aspectos humanos, redefinição de calendários esportivos, formação de dirigentes e de uma base sólida em sua juventude. Como dizia o compositor baiano: “a humanidade só sabe filosofar em alemão”.

Com toda a qualidade do futebol brasileiro, podemos dizer, sem medo de errar, que perdemos terreno, não evoluímos e, considerando o que fazem e dizem os “dirigentes”, continuaremos insistindo no erro, mantendo a cultura do “jeitinho”, jogando do mesmo modo, fazendo faltas desnecessárias, desprezando a capacidade dos nossos adversários de aprender, de nos estudar, de construir uma perspectiva coletiva.

De todo modo, fica, desta Copa, o exemplo e a cena dos japoneses limpando o local que ocuparam no estádio, fato pouco comentado pela grande imprensa. Eles sabem, a duras penas, por terremotos, maremotos, grandes adversidades naturais, a importância do respeito ao meio ambiente. Devemos aprender com eles? Ou esperaremos que forças destruidoras da natureza venham nos ensinar?

Em tempo: interessante a leitura do livro “Vida que segue” (João Saldanha, “autor” do time de 1970).

(*) Robert Dagon, bancário.

Publicado em FolhaBV 20140717