Centros administrativos públicos: uma necessidade, um debate. (FolhaBV)

23/01/2014 21:50

 

Centros administrativos públicos: uma necessidade, um debate. (FolhaBV)

Se olharmos no centro da nossa cidade de Boa Vista, tão somente no centro, veremos inúmeros terrenos abandonados. Exemplos: o prédio da Secretaria Estadual de Educação e Cultura, onde funcionou também o Colégio Murilo Braga; o antigo prédio da TELAIMA, extinta no governo FHC; e o prédio do Primeiro Distrito Policial (ex Secretaria de Segurança Pública). Seria de bom alvitre a edificação nestes espaços, por parte dos governos estadual e municipal, de Centros Administrativos que abrigassem as suas secretarias. Estas poderiam ser construídas, também, na Zona Oeste da Cidade, local em que mora a maioria do povo, com subsedes no centro. Qual a causa de, podemos dizer, tamanho descaso? Ora, grande parte dos órgãos do poder público estadual e municipal está em prédios “reformados”, com seus caríssimos anexos, alugados de “laranjas” de políticos, inclusive os da chamada oposição (consentida, diga-se de passagem).  Até a Secretaria (agora somente de Educação), funciona, tem mais de um ano, em um hotel situado próximo a Praça Ayrton Senna. Uma aberração destas somente ocorre com o desrespeito com que se trata o patrimônio público neste País e, mais grosseiramente, na querida Terra Macuxi. Até uma família em férias sabe o desconforto causado por um longo período em um hotel, imaginemos o funcionamento de uma secretaria de Estado. É lógico que existem órgãos estaduais e federais de fiscalização e, até certo ponto bem remunerados são seus profissionais. Quais as razões do silêncio, então? Sub-repticiamente surge a figura do nepotismo cruzado, em diversas ocasiões denunciado pela imprensa local, inclusive neste jornal de grande circulação estadual. A omissão gera um verdadeiro leilão do dinheiro público, capitaneado por quem é eleito para tratar com zelo, decência, seriedade, transparência, tudo aquilo que é de todos e que, no caso de Roraima pertence em grande parte a todo o povo brasileiro. Somos menos de quinhentos mil habitantes em Roraima, menos até do que a população de um bairro antigo da vizinha cidade de Manaus. Temos tudo para que aqui seja um paraíso terrestre.  Mas boa parte dos políticos tem na “coisa pública” a razão de seu enriquecimento. Poucos são os que têm presença nos ramos geradores de riqueza ou de trabalho.  Em geral, são donos de empresas de comunicação, de rádio ou televisão, ou mesmo possuidores das empresas prestadoras de serviço federal, estadual e municipal, de limpeza, de “segurança”.  Suas empreiteiras fazem serviço mal feito à espera dos ricos aditivos, ou até uma seca ou uma cheia que apague seus crimes. Outras de suas “empresas” são utilizadas para precarizar o trabalho, contratando trabalhadores por preço aviltante, embolsando a maior parte do que recebem do poder público. Por outro lado, onde estão os que podem lutar contra este estado de coisas? O silêncio de alguns é a forma mais cruel de participar dessa “farra macabra” (como dizia Heloisa Helena). O silencia de outros é a repetição dos slogans das aves de rapina, tais como “rouba, mas faz”, ou “é um mal necessário”. Porém, o maior dos delitos é fazer parte, conscientemente, do bloco dos assaltantes e “meliantes de luxo”, ao invés de contribuir para a construção de uma alternativa, urgente, necessária.

Ainda bem que, no terreno da consciência humana, verdadeiramente humana e humanista, temos bastante terreno, não abandonado, para erigir a esperança, a luta por um futuro possível e necessário.

Como dizia Mário Quintana, poeta gaúcho: “O futuro é uma espécie de banco ao qual vamos remetendo, um por um, todos os cheques de nossas esperanças... Ora, não é possível que todos os cheques sejam sem fundos”.

(Este texto foi publicado em 12/02/2013, em FolhaBV).

Robert Dagon, bancário.  (texto publicado em 2013).       robert_dagon@hotmail.com