Biografia autorizada ... Uma visão distorcida (?) ... (FolhaBV)
Biografia autorizada ... Uma visão distorcida (?) ... (FolhaBV)
Uma das grandes discussões do momento se dá sobre biografia autorizada. Não fosse a superficialidade com quer alguns veem o tema, apareceria o que ele espelha: a repressão velada. Impressionante que o assunto faz aliados que estiveram afastados em termos musicais, culturais e históricos. Exemplo: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros, juntos com Roberto Carlos e com opinião muito semelhante. Não se trata aqui, neste texto, de uma tentativa de criticar o direito de opinião, mas, muito pelo contrário o de defendê-lo veementemente. Claro está que a obra do cantor Roberto Carlos é uma obra claramente autobiográfica, com músicas para familiares, mulheres, religiosidade. Os outros aqui citados têm seus trabalhos alicerçados nos temas sociais, históricos, políticos, de resistência a regimes autoritários, denúncias de situações de discriminação, entre outros, bastante genéricos. Mais ainda: outro aspecto relevante é a censura sofrida pelos autores nos períodos de chumbo da ditadura militar, severa e excludente, ao ponto de serem exilados em países da América, da Europa entre outros. Quem viveu a repressão política do regime autoritário que vingou no Brasil entre 1964 e 1985 não consegue compreender tal “aliança”. Não há motivo transcendente para defender a censura prévia a qualquer texto biográfico. Mesmo o tal “acordo” entre biógrafo e biografado (proposto pelo movimento) já traduz o caráter de censura. O texto de um biógrafo tem quase sempre a assinatura de um jornalista ou profissional da área da literatura, portanto não é trabalho clandestino e tem na editora sem aspecto público. O biografado tem, na ocorrência de invasão de privacidade, injúria, calúnia, uma prova material do ocorrido podendo, para reparar, recorrer judicialmente, punindo o agressor se for o caso. Imaginemos se o falecido Saramago tivesse que solicitar permissão ao Vaticano para escrever sua célebre obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”: isto seria uma aberração, um absurdo. Imaginemos Chico Buarque e Milton Nascimento pedindo aos censores da Ditadura a liberação de “Cálice”, com seu maravilho subliminar “cale-se”. Imaginemos Caetano Veloso gritando “É proibido proibir”, lindamente cantado, mas, antes, submetido à censura prévia de quem quer que fosse. Imaginemos o “Aleijadinho” autorizando uma biografia que escondesse ou negasse que era portador de hanseníase, o que só diminuiria seu perfil artístico e histórico. Enfim, ouso afirmar: uma biografia é um texto que reflete momentos de figuras públicas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para provocar mudanças no Mundo, com seus erros e seus acertos, defeitos e qualidades, limitações e avanços, genialidade e mediocridade, pessoas de carne e osso, mortais como somos todos.
Como dizia Raul Seixas: “Pois cada um nasceu, para dizer, para falar, de forma diferente o que todo mundo sente”.
Robert Dagon, bancário. robert_dagon@hotmail.com 9121-8268