Biografia autorizada ... Uma visão distorcida (?) ... (FolhaBV)

31/10/2013 14:23

 

Biografia autorizada ... Uma visão distorcida (?)  ...  (FolhaBV)

Uma das grandes discussões do momento se dá sobre biografia autorizada. Não fosse a superficialidade com quer alguns veem o tema, apareceria o que ele espelha: a repressão velada. Impressionante que o assunto faz aliados que estiveram afastados em termos musicais, culturais e históricos. Exemplo: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, entre outros, juntos com Roberto Carlos e com opinião muito semelhante. Não se trata aqui, neste texto, de uma tentativa de criticar o direito de opinião, mas, muito pelo contrário o de defendê-lo veementemente. Claro está que a obra do cantor Roberto Carlos é uma obra claramente autobiográfica, com músicas para familiares, mulheres, religiosidade. Os outros aqui citados têm seus trabalhos alicerçados nos temas sociais, históricos, políticos, de resistência a regimes autoritários, denúncias de situações de discriminação, entre outros, bastante genéricos. Mais ainda: outro aspecto relevante é a censura sofrida pelos autores nos períodos de chumbo da ditadura militar, severa e excludente, ao ponto de serem exilados em países da América, da Europa entre outros. Quem viveu a repressão política do regime autoritário que vingou no Brasil entre 1964 e 1985 não consegue compreender tal “aliança”. Não há motivo transcendente para defender a censura prévia a qualquer texto biográfico. Mesmo o tal “acordo” entre biógrafo e biografado (proposto pelo movimento) já traduz o caráter de censura. O texto de um biógrafo tem quase sempre a assinatura de um jornalista ou profissional da área da literatura, portanto não é trabalho clandestino e tem na editora sem aspecto público. O biografado tem, na ocorrência de invasão de privacidade, injúria, calúnia, uma prova material do ocorrido podendo, para reparar, recorrer judicialmente, punindo o agressor se for o caso. Imaginemos se o falecido Saramago tivesse que solicitar permissão ao Vaticano para escrever sua célebre obra “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”: isto seria uma aberração, um absurdo. Imaginemos Chico Buarque e Milton Nascimento pedindo aos censores da Ditadura a liberação de “Cálice”, com seu maravilho subliminar “cale-se”. Imaginemos Caetano Veloso gritando “É proibido proibir”, lindamente cantado, mas, antes, submetido à censura prévia de quem quer que fosse. Imaginemos o “Aleijadinho” autorizando uma biografia que escondesse ou negasse que era portador de hanseníase, o que só diminuiria seu perfil artístico e histórico. Enfim, ouso afirmar: uma biografia é um texto que reflete momentos de figuras públicas que, de uma forma ou de outra, contribuíram para provocar mudanças no Mundo, com seus erros e seus acertos, defeitos e qualidades, limitações e avanços, genialidade e mediocridade, pessoas de carne e osso, mortais como somos todos.

Como dizia Raul Seixas: “Pois cada um nasceu, para dizer, para falar, de forma diferente o que todo mundo sente”.

Robert Dagon, bancário.                      robert_dagon@hotmail.com                 9121-8268