Ausência de zelo ou zelo de ausência (FolhaBV)
Ausência de zelo ou zelo de ausência
Robert Dagon
No início do ano passado os vereadores deram aval para que a atual chefe do Executivo Municipal tomasse um empréstimo de cerca de R$ 60 milhões. Estavam começando seus mandatos. Levaram em conta a promessa de muitas melhorias em nossa cidade, inclusive pontos de espera de ônibus com muita regalia, entre outras “mordomias” para os munícipes. Um ano depois cedem mais um prêmio para a prefeita, com a aprovação de um projeto de lei que permite a terceirização de serviços. Não fosse o grave problema que vemos na terceirização praticada no município e no estado, passaríamos em branco. Entretanto, as terceirizações envolvem o nome de muitos políticos locais, sejam vereadores, deputados, laranjas.
Em geral os perdedores desse sistema são os trabalhadores que, quando têm seus direitos desrespeitados, não podem responsabilizar diretamente os governos municipal e estadual e têm que recorrer judicialmente contra as “terceirizadas”, as quais desaparecem da mesma forma que surgem: sem deixar rastros.
A grande imprensa vem mostrando os acontecimentos na Petrobrás, empresa na qual o “esquema” de terceirização é desnudado por obras inacabadas, como aeroportos que não ficarão prontos para a Copa e nem para a Olimpíada: a mesma história de PPP da Prefeitura de Boa Vista. Os sócios da “parceria” são altas autoridades das próprias estatais e do poder executivo, legislativo e judiciário, parentes e “amigos” de autoridades.
No Estado de Roraima as mães merendeiras vêm convivendo com atrasos em seus pagamentos desde o princípio do “projeto”. Aliás, com o silêncio de quem deveria e deve fiscalizar, um meio utilizado para contratar mão de obra de forma fraudulenta, sem realizar o necessário concurso público.
A terceirização é a máscara indelével da privatização do poder público, um modo sub-reptício de utilizar dinheiro público para enriquecer os “donos” do poder, os velhos e os novos corruptos, os históricos e os “neos” do mensalão. Todo dia um escândalo, todo dia um “grandão” é pego “pegando carona” em avião de doleiro, “amigo de muitos anos” e do Partido da presidente.
Não resta dúvida de que o que o povo fez na Câmara de Vereadores foi um bom começo, pois houve aumento no número de vereadores e somente quatro se reelegeram, embora mereça uma reflexão o conteúdo da “mudança”. Nas eleições de outubro deste ano espera-se que o povo dê uma resposta clara e contundente, para que o nosso processo democrático ainda incipiente retire da vida pública os que insistem em manter um sistema brutal e insipiente: a ignorância oficial, ou não, enraizada culturalmente, não pode e não deve vencer.
Bancário, robert_dagon@hotmail.com