A capa da Copa ou a copa da Capa (FolhaBV)

05/06/2014 21:23

 

A capa da Copa ou a copa da Capa

Robert Dagon (*)

Daqui a sete dias teremos o início do Torneio Internacional denominado Copa do Mundo. Não digo que estaremos divididos. Divididas estarão as opiniões. Alguns torcerão pela seleção brasileira de forma apaixonada. Outros defenderão até mesmo a sua derrota. O pano de fundo das diferenças será, indubitavelmente, o momento político que vivemos, a eleição que se avizinha, nossas condições sociais e econômicas.

Não creio que se deva embriagar pela participação do Brasil na competição. Nem mesmo permanecer indiferente ou mesmo em cima do muro.

Precisamos ter consciência que a vida, antes e depois, estará definida apenas para os donos do pequeno campeonato e os envolvidos diretamente no espetáculo, ou seja, os dirigentes da FIFA, das diversas Confederações e Federações Internacionais e os jogadores participantes. Se seus altos salários não forem alavancados, também não sofrerão decréscimo algum. As condições que lhes estão sendo oferecidas continuarão em seus países de origem. Ao povo restará o consolo de observar modos de vida que a imensa maioria jamais poderá conhecer.

No mais, outros habitantes deste pequeno Planeta terão a continuidade de suas vidas, com seus problemas, suas vitórias e derrotas cotidianas, suas dívidas a pagar, a saúde para cuidar, a falta de escola, de segurança e o abandono por parte das ditas autoridades.

Afinal, em 1950, mesmo com a derrota o Brasil não parou, o Uruguai não se tornou potência mundial, e o posterior suicídio de um presidente brasileiro eleito não teve relação direta com o resultado. “Ganhamos” em 1958, 1962 e 1970, períodos em que convivemos com uma renúncia presidencial, a deposição de um vice-presidente empossado constitucionalmente, e a instalação de uma ditadura sangrenta.  Se superamos a fase ditatorial fizemo-lo ocupando as ruas e defendendo a Campanha das “Diretas Já”, conquistando pequenos e importantíssimos espaços democráticos, incompletos e inacabados.

Entre 1982 e os dias de hoje, conhecemos o Plano Real, a eleição de um líder operário e, mais uma vez, as vitórias futebolísticas obtidas em 1994 e 2002 não contribuíram diretamente para tais feitos. A inflação retorna, acompanhada da corrupção “nunca vista antes na história deste país”, como consequência de atos políticos definidos conscientemente, com alguns de seus responsáveis diretos presos.

As greves das mais diversas categorias, as manifestações políticas, a ocupação das praças, das ruas, são uma resposta às nossas necessidades mais urgentes, de caráter imediato e histórico, em que jovens, idosos, grandes lutadores, mostrarão ao Mundo qual é o verdadeiro Brasil, sua entranhas, as “veias abertas” deste imenso país. Somente este jogo não podemos perder, o jogo que não dura noventa minutos, o jogo da História.

“Porque olhar nos olhos da tragédia é a maneiras mais rápida e mais fácil de começar a dominá-la” (Oduvaldo Viana Filho, Vianinha).

“A História é um carro alegre, cheio de gente contente, que atropela indiferente, todo aquele que a negue” (Chico Buarque de Holanda).

Robert Dagon, bancário                                robert_dagon@hotmail.com

FolhaBV, 20140605